A vida prega-nos partidas e na véspera de Natal tive uma noticia que me deixou arrasada. O Tito,o meu gato, tinha insuficiência renal. Aquele que considerava um membro da família, tinha um prazo máximo estipulado de vida. Foi um choque grande, muito grande. Quem me conhece pessoalmente sabe a relação que eu tinha com o Tito. Era AMOR. AMOR de dona. Daquele tipo que infelizmente muitas pessoas nunca vivem. O AMOR por um animal. Eles dão-nos TANTO e pedem tão pouco. Acredito que quem gosta de animais, ache o seu único. Mas acho que existem uns mais únicos do que outros. E o Tito era um deles. ÚNICO. Querido. Um AMOR de gato. Companheiro, muito companheiro. Exigente - bastante - em atenção. Amava miminhos, muitos miminhos. Era um gato presente, nada independente, gostava de estar perto das pessoas. Era castiço. Obediente como muitos cães não são. Esperto. Emocional. Comunicativo. Impossível era não simpatizar com ele. No inicio do ano, passei a ter um grande objectivo. Dar-lhe qualidade de vida enquanto a maldita da doença não o levasse para longe do meu colinho, cheio de AMOR para lhe dar todos os dias. Após o 1º internamento (entre o Natal e o Ano Novo), houve uma série de cuidados (muitos) que tive de passar a ter. Cuidados esse que eu teria por toda uma vida, se fosse necessário. O Tito aguentou-se sem uma recaída, até Junho. 6 meses, 6 meses de vitória e de esperança. Quando algo acontece aos nossos, achamos sempre que eles serão a excepção à estatística. É isso que nos permite continuar a lutar. Após este internamento em Junho, acreditamos que o próximo seria também dali a 6 meses. Mas não. As recaídas e consequentes internamentos tornaram-se cada vez mais, menos espaçados. Mas eu continuava a acreditar. Mas ao mesmo tempo, sentia-me impotente, tão impotente. Revoltada, tão revoltada, por tudo o que existe neste mundo para o ajudar não ser para o salvar, mas sim, para adiar o inevitável. Só tinha uma preocupação, eu não podia ficar sem recursos financeiros para o ajudar. Isso era impensável. Quando o adoptei, adoptei-o até ao fim. No bom e no mau. Com a responsabilidade de que eu estaria ali, enquanto tudo estivesse bem e também e essencialmente, quando tudo estivesse mal. Por isso, prescindi de coisas para mim, principalmente nestes últimos 4 meses, para que NADA lhe faltasse a ele. E ele merecia tudo isto e muito mais. Queria eu ver mais crianças neste mundo serem tratadas com o carinho, dedicação e amor com que o Tito (um gato, o meu gato) foi tratado. Quisera eu que mais crianças no mundo tivessem a mesma atenção, que eu dei ao meu gato. E quisera eu, que também mais animais no mundo fossem assim bem tratados. Quando adoptamos um animal, devemos ter a responsabilidade de lhe dar dignidade até ao último dia. Queria o descanso na consciência de ter feito e dado ao meu gatinho, tudo o que ele poderia ter para ser ajudado. E assim foi. Felizmente por um lado e infelizmente pelo outro. Porque apesar de tudo, TUDO que voltava a fazer vezes e vezes sem conta, embora por vezes as forças já me quisessem derrotar, ele não aguentou mais. E eu fiquei de coração quebrado, estilhaçado. Tirou-me algo que tanto me caracteriza, o meu sorriso. Ele não merecia. Também a veterinária, Dra Joana e o assistente Sr Carlos, foram incansáveis e ficaram tocados com a partida do Tito. Não há palavras no mundo para lhes agradecer tudo o que fizeram nestes 10 meses e o quão sempre tão bem trataram o Tito. Tranquilizam-me um pouco as palavras da veterinária 'nunca vi alguém tão dedicado ao seu gatinho, fizeram tudo o que era possível para o ajudar. Em todas as vezes que esteve internado, era o gatinho mais visitado de sempre.' E acredito. Mas ele merecia as visitas diárias, não queria de todo que ele se sentisse abandonado, pelo contrário, queria que ele soubesse que mais dia menos dia, regressava de novo a casa e assim era. Até que desta vez não regressou. Partiu. Tão cedo. Onze anos passaram a voar. Ainda tínhamos tantas coisas giras para partilhar. Ainda tinhas tantas gargalhadas para me arrancar. A vida era tão mais colorida contigo. A casa era tão mais alegre contigo. Tenho saudades do teu ronronar. Tenho saudades de te ter no meu colo. Tenho saudades da tua companhia. Tenho saudades das tuas traquinices. Tenho saudades de te ver dançar com o dono. Tenho saudades de te ver mergulhar a ração na taça da água. Tenho saudades de te ver beber água da pata. Tenho saudades do teu miar. Tenho saudades de me receberes quando chegava a casa. Tenho saudades de ver como ficavas feliz quando chegava a casa. Tenho saudades de te ver dormir enroscadinho dentro da caixa dos meus sapatos. Tenho saudades de te comprar mantas quentinhas para dormires no Inverno. Tenho saudades de me pedires colo. Tenho saudades de te levar a passear de carro. Tenho saudades de te ver abrir portas (no puxador). Tenho saudades de te colocar um laçarote ao pescoço para receberes as visitas. Tenho saudades de tirar fotografias contigo. Tenho saudades de te ver ao lado do dono à hora da refeição e ao meu lado na cama. Tenho saudades de te ver arranhar as unhas no arranhador com forma de uma gatinha, a tua namorada. Tenho saudades até dos dias em que eras mais chatinho. Tenho saudades de escolher uma casa ainda com melhores condições para poderes ter mais espaço. Tenho saudades de me babares o pescoço com turrinhas. Tenho saudades de te fazer festinhas. Tenho saudades de olhar para uma fotografia tua e não chorar. Tenho saudades de falar de ti e não chorar. Tenho saudades de passar um dia sem chorar, esse dia ainda não chegou, mas há-de chegar. Porque como dizem e é verdade, o tempo cura tudo. Há um vazio. Um vazio grande cá em casa. Foi um gosto teres feito parte da minha história, da minha vida. Serás sempre uma BOA memória. Ensinaste-me mais uma forma de AMAR. Eras único, especial, um AMOR de gato.
PARA SEMPRE, AMOR DE DONA
01.09.2004 - 03.10.2015
OBS.: Esta foi uma luta não só minha. Aliás, de todo. Foi uma luta nossa como é óbvio. Minha e do Maridão. Maridão que não é muito expressivo no que toca a emoções, mas que também ele, desta vez ficou triste. Muito triste.
Este foi o principal motivo (não único, mas determinante) pela minha ausência nestes últimos 2 meses. O meu foco era outro. Para além da vida diária e profissional claro. Mas a minha inspiração fora disso, era 0. Ela vai voltar, estou a fazer por isso. Espero que ainda estejam aí desse lado quando ela surgir de novo. Um OBRIGADA muito grande a todas as que me deixaram comentários e às que me enviaram e-mails durante este tempo.