Até que tens mesmo de te levantar. A custo, muito custo. Tudo o que mais queres é não ver, nem falar com alguém. Se houvesse forma de por 24h entrares numa cápsula e ir até Marte, era isso que fazias. Mal penteias o cabelo. Maquilhagem, nem pensar. Ficas mesmo assim com aquele ar de caos. E és tão fácil de detectar, porque passas a vida a rir, tens sempre um sorriso. Difícil disfarçar, mas tentas. Mal passas pelas redes sociais, a não ser para colocar uma foto da família reunida na Páscoa, o que te traz até uma certa melancolia. Para ajudar mais ainda ao drama. Passas todo o dia calada. Nada irritada, aliás nada te irrita, porque estás num dia em que nada te incomoda. Não por estares de bem, mas porque não estás nem aí. Lamentas a tua vida virada do avesso. Tens saudades de muita coisa. Coisas boas. Simples, tão simples, nem imaginam o quão simples, mas que te fazem tanta falta. Sentes que as tuas reservas de boas energias foram esgotadas. Estás no casco. O que comeste no dia anterior faz-te sentir uma autêntica bola prestes a rebolar escada abaixo, o que também não ajuda. E sentes-te mal por não teres ido ao ginásio correr atrás do prejuízo. Fosses. E assim se passa o dia. Um dia mau.  No dia seguinte, ainda está a mochila do ginásio pronta do dia anterior (em que foste uma baldas), toca novamente o despertador, à hora do costume. Levantas-te. Lavas a cara com água fria. Preparas o pequeno-almoço do costume. O café em dose dupla, para acordar. Sais de casa e o céu está nublado, tão bom para animar. NOT. Mas lá vais a pé, como habitual, de mochila às costas, ainda que não totalmente convencida. A meio do caminho uns raios de sol aparecem entre as nuvens. Será um sinal? Entras no ginásio. Começas os teus rituais de alongamento antes do treino, com uma música tranquila. Sobes para a elíptica e no teu MP3 o som muda. TU mudas. Sentes aquele boost de energia que tanto precisavas.

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